Newsletter

Inflação alta impediu aceleração das vendas em 2021

10 de fevereiro de 2022

Análise da CNC aponta que varejo sofreu mais com alta dos preços do que com pandemia

No último ano, a deterioração das condições de consumo impactou mais o comércio negativamente do que a covid-19. É o que aponta a análise da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), com base na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) de dezembro de 2021, divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números indicam que, mesmo repassando apenas menos da metade da inflação ao consumidor final, o setor não conseguiu apresentar crescimento superior a 2% (1,4%) pela sexta vez em sete anos.

Segundo o estudo da CNC, em 2020, a crise sanitária ditou predominantemente o ritmo das vendas, levando o varejo a registrar um aumento anual de 1,2%. Já em 2021, a aceleração dos preços justificou o fraco desempenho do segmento de 1,4%. Em dezembro de 2020, a taxa de inflação acumulada em doze meses, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), estava em 4,52%. Um ano depois, pressionada não somente pelas tarifas, mas também disseminada pelo índice, acelerou para 10,06%.

O presidente da entidade, José Roberto Tadros, avalia que o desemprego elevado e as taxas de juros em aceleração certamente contribuíram para o resultado de 2021; no entanto, o declínio das condições de consumo teve o maior impacto nas vendas, mesmo com o avanço econômico de 4,5% após queda de 3,9% em 2020. “A inflação reduziu o poder de compra e esfriou a demanda por produtos ao longo do ano. Além disso, incapazes de reter os reajustes do atacado, os varejistas se viram obrigados a repassar parcialmente a alta de custos aos consumidores finais.”

Na média, o varejo absorveu mais da metade da alta recebida do atacado (+27,6%), repassando apenas 12,2% aos compradores. Excetuando o comércio automotivo, cujos preços no varejo (+17,1%) subiram ligeiramente acima do atacado (+16,6%), os demais segmentos foram obrigados a sacrificar margens ao longo de 2021, com percentuais de retenção de repasses que chegaram a 68%, no caso do comércio de materiais de construção (+58,1% no atacado e +18,7% no varejo).     

Entre altos e baixos

De acordo com a PMC, em dezembro de 2021, o volume de vendas do comércio varejista caiu 0,1% em relação ao mês anterior. Já na comparação com dezembro de 2020, a queda foi de 2,9%, a quinta retração consecutiva nesta base comparativa. E, enquanto em 2020, 18 das 27 unidades da Federação registraram aumento real das vendas, no ano passado, apenas 13 apresentaram expansão. Destacaram-se positivamente os Estados do Piauí (+9,8%), Pará (+7,1%) e Amapá (+8,5%).

Subsetorialmente, as maiores taxas positivas ocorreram nos segmentos automotivo (+14,9%); de tecidos, vestuário e calçados (+13,8%); e de artigos de uso pessoal e doméstico (+12,7%). Entretanto, nos três casos, as vendas mensais continuaram situadas abaixo do nível verificado antes do início da pandemia (-6,9%, -4,6% e-2,0%, respectivamente). O destaque negativo ficou por conta do varejo de alimentos (-2,3% ante 2020 e apenas 1,0% acima do registrado em fevereiro do ano anterior).

O economista da CNC responsável pela pesquisa, Fabio Bentes, avalia que, apesar de ter sido severamente castigado pela crise sanitária em 2020, o comércio conseguiu crescer pelo quinto ano seguido e se aproximar da normalização operacional ao longo de 2021. “Esse cenário se traduziu no quase restabelecimento da circulação de consumidores ao nível pré-pandemia. Embora o ano tenha se iniciado sob a sombra da segunda onda da crise de contaminações pelo novo coronavírus, a desaceleração do número de casos graves da doença, decorrente do avanço na vacinação, viabilizou o aumento da circulação dos consumidores nos meses subsequentes”, observa.

Segundo levantamento feito pela CNC, com base em dados do Google Mobility, a circulação de consumidores, que havia recuado 23% nos três primeiros meses do ano, cresceu 67% até dezembro, apesar da influência do avanço da variante Ômicron no último mês de 2021. Em dezembro de 2020, o fluxo de consumidores nas lojas estava 29% abaixo do normal e, um ano depois, 9% aquém do período pré-pandemia.

Segundo Bentes, a tendência para 2022 é que o setor sofra menos com os efeitos decorrentes da crise sanitária e da inflação. “Apesar desses alívios, a expectativa de um crescimento econômico inferior a 0,5% neste ano e a incerteza inerente a 2022 deverão limitar a retomada do mercado de trabalho, a principal fonte de recursos para consumo”, estima. Diante deste cenário, sem alterações significativas desde a sua última projeção, a CNC manteve a expectativa de alta de 0,9% nas vendas deste ano.