Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE, a taxa de desocupação média brasileira foi de 14,7% no trimestre de janeiro a março de 2021, ficando acima do registrado no trimestre de outubro a dezembro de 2020 (13,9%). Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, quando a taxa marcava 12,2%, também é verificada alta.
A desocupação cresceu num cenário de redução da força de trabalho, com uma queda significativa da população ocupada. Em um ano, 4,6 milhões de pessoas saíram do mercado de trabalho e 2,0 milhões de pessoas se tornaram desocupadas. O contingente de pessoas fora do mercado de trabalho aumentou em 9,2 milhões de pessoas na comparação com o mesmo período de 2020. Como já comentado anteriormente, fica evidente que, diferentemente do que aconteceu em outras crises, o mercado informal não tem tido a capacidade de absorver pessoas, servindo como um colchão na geração de renda na crise atual. Tanto na comparação com o trimestre anterior, quanto na comparação com o mesmo trimestre de 2020 houve redução da população ocupada sem carteia assinada no setor privado.
O rendimento médio das pessoas ocupadas foi de R$ 2.544,00 no trimestre encerrado em março de 2021, com variação real de 0,8% em relação à remuneração do mesmo trimestre do ano anterior (R$ 2.524,00, em valores atualizados). A massa de rendimento real variou -6,7% na mesma base de comparação, refletindo a queda no número de ocupados. A variação no rendimento médio apura que as vagas de menor remuneração foram as mais destruídas no período.
Atualmente temos um problema significativo nas estatísticas de emprego do Brasil. Em que pese as diferenças metodológicas, o Novo Caged e a PNAD Contínua apresentam quadros bastante distintos do mercado de trabalho brasileiro. Enquanto o Novo Caged registra a criação continuada de vagas no mercado de trabalho formal brasileiro, num processo de plena recuperação que até destoa de outros indicadores de atividade econômica, a PNAD Contínua mostra a cena de um mercado de trabalho fraco, mesmo considerando apenas sua parcela formal. Entretanto, é muito difícil precisar qual das duas está correta ou mesmo se ambas estão erradas. As duas pesquisas passaram por mudanças metodológicas relevantes a partir do ano passado. Em virtude da pandemia, a pesquisa do IBGE teve que ser feita por telefone, o que poderia estar conferindo um viés de disponibilidade à amostra, com reflexos negativos sobre o desempenho do mercado de trabalho. Já o Novo Caged desde o início de 2020 passou a repercutir os dados do E-Social, não podendo, assim, ser comparado com sua série histórica e pode estar contribuindo para um registro líquido extremamente positivo da geração de vagas ao não estar apresentando dados de empresas que fecharam as portas no período, por exemplo. Infelizmente, num mar tão revolto como o que ora navegamos, as lentes que nos mostram os caminhos que percorremos se mostram embaçadas, mais um elemento a adicionar incerteza na economia.